Eu tinha dezesseis anos, e como qualquer garoto nessa idade estava louco pra completar dezoito e tirar a carteira de motorista. Com a influência do meu pai, aos treze eu já comecei com minhas primeiras aulas de volante e aos 16 já era um “MOTORISTA”.
Nessa mesma época, meu pai comprou um carro semi-novo havia duas semanas, era praticamente um 0km, e como de costume, no sábado, fomos a tapeçaria de meus tios. Porém algo diferente estava por vir, uma situação adversa onde apareceu uma marmitex a ser compra pra algum indivíduo que nem sei quem é, num restaurante perto dali. Pensei, “Essa é minha oportunidade de fazer um teste drive no possante do velho”. Me coloquei a disposição, eu precisava fazer aquele serviço, era o cara certo para aquele trabalho. Foi assim minha argumentação; “Pai, só falta dois anos pra eu tirar a carteira, já sei dirigir, o senhor mesmo quem me ensinou, bla bla bla bla”.
Depois de muita insistência, meu pai finalmente liberou a chave dos sonhos; bom, sonhos até aquele momento. Fui caminhando em direção ao carro, peito estufado, nariz empinado e um orgulho no rosto que não da pra descrever, era o dono da situação. Abri a porta, sentei- me no banco, dei a partida e... não contava com alguns fatores inusitados que apareceram: primeiro meu pai estacionou o carro na contra mão; segundo, um rapaz fazendo zig-zag em uma mobilete vindo em minha direção e terceiro, uma enorme árvore. Eu precisava fazer uma manobra totalmente “arriscada”, conduzir o veículo de marcha ré na entrada de uma garagem. É eu sei, era algo muito simples, mas eu falhei, meu cálculo foi totalmente errado, estava rápido demais e quando virei o volante já tinha passado da entrada da garagem. E o que me esperava?, sim ela, tão grande e vistosa, a árvore! Acabei com a traseiro do carro. Que barulho, que sena, que erro, que vergonha! Todas aquelas pessoas olhando pra mim com a mão na cabeça e aquela mesma careta quando um atacante perde um gol na final de copa do mundo.
Bem meu primeiro pensamento foi “Meu pai vai me matar”, um amigo que estava junto comigo me olhou e disse “seu pai vai te matar”; e lá estava ele, caminhando em minha direção, e eu ali pasmo de cabeça baixa esperando a sentença, procurando alguma desculpa, algum culpado, uma razão um motivo. Finalmente ele chega, estende sua mão me pedindo a chave, olha pra mim com uma das sobrancelhas erguidas e... simplesmente; não diz nada?, como assim, porque?, ele fica em silêncio, não fala absolutamente uma palavra se quer. Eu esperava tudo menos o silêncio. Confesso que se ele tivesse me matado seria melhor. Como o silêncio pode doer tanto, nos falar tanto, nos ensinar tanto?
Quantas e quantas vezes insistimos com Deus pedindo incansavelmente para que bênçãos e promessas se cumpram em nossas vidas, e como ótimo e perfeito pai que é, algumas vezes nos entrega essas bênçãos por nossa insistência. Mas, qual é a conseqüência de bênçãos entregues no tempo indevido? Nós já sabemos a resposta! Nesse momento a benção vira maldição e queremos uma resposta do Pai, e Ele, bom, Ele fica em silêncio!
“Por acaso algum de vocês, que é pai, será capaz de dar uma pedra ao seu filho, quando ele pede pão? Ou lhe dará uma cobra, quando ele pede um peixe? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quando mais o Pai de vocês, que está no céu, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mateus 7:9-11).
Wbenay Soares
Silêncio